- 5 Ago 2025
As Saídas Profissionais na Área da Saúde em 2025
De acordo com a Plataforma Inforcursos (Dados e Estatísticas de Cursos Superiores – Edição 2025) e o Público (2025), o desemprego entre os diplomados em Portugal tem vindo a diminuir de forma consistente, refletindo uma melhoria na integração dos jovens qualificados no mercado de trabalho. Esta tendência é especialmente visível na área da Saúde, que continua a destacar-se como uma das mais sólidas em termos de empregabilidade. No entanto, é essencial analisar os dados de forma abrangente e perceber os reais impactos para as entidades do setor e para os jovens profissionais que ingressam neste mercado.
A melhoria das estatísticas e os cursos “seguros”
As notícias sublinham que o desemprego entre diplomados está a diminuir e que há 87 cursos com nível de empregabilidade entre 99 % e 100 %. Entre estes, destacam-se fortemente os cursos da área da Saúde, incluindo Medicina, Enfermagem, Ciências Farmacêuticas, Imagem Médica, Terapia da Fala, Fisioterapia, entre outros. Estes cursos evidenciam uma ligação direta e consistente com as necessidades do sistema de saúde e com a procura de talento por parte das instituições do setor.

Contudo, é importante contextualizar estes dados: embora existam 132 cursos com taxas de empregabilidade superiores a 99 %, representam apenas cerca de 10 % do total de cursos disponíveis. Assim, apesar da Saúde se destacar como uma área “segura”, a realidade da oferta formativa continua a ser ampla e diversa, nem sempre oferecendo garantias de empregabilidade imediata.
“Existem 87 Cursos com nível de Empregabilidade entre 99% e 100%”
muitos deles na área da Saúde.”
É também relevante distinguir os percursos: os estudantes que concluem TeSP na área da Saúde (Técnicos Superiores Profissionais) apresentam resultados menos positivos em termos de empregabilidade direta – apenas 15 % dos diplomados entre 2016 e 2022 conseguiram emprego permanente. No entanto, este tipo de formação funciona muitas vezes como etapa intermédia para estudos superiores, com 65 % a prosseguir para licenciatura.
Por contraste, indivíduos com licenciatura ou pós-graduações na Saúde (como mestrado ou doutoramento) tendem a obter emprego mais rapidamente, com melhores condições contratuais e salariais
É ainda de destacar que cerca de 17 % dos estudantes do ensino superior acabam por desistir, fenómeno que, quando afeta cursos da área da Saúde e tem impacto direto na capacidade futura de resposta do sistema nacional de saúde e consequentemente no setor privado.

- O fosso entre educação e mercado de trabalho na Saúde
Embora se registe elevada procura de profissionais da saúde, o mercado português continua a apresentar limitações estruturais — como a concentração dos serviços de saúde em determinadas regiões ou a escassez de investimento em inovação e tecnologia clínica — o que dificulta a absorção eficiente de todos os diplomados.
No final de 2023, a taxa de desemprego entre os jovens dos 16 aos 24 anos era de 20,3 %, muito acima da média global (6,6 %). A área da saúde, apesar de ser uma exceção em muitos indicadores, não está imune ao fenómeno do subemprego: contratos a termo, trabalho temporário, part-time involuntário e instabilidade contratual são uma realidade em muitos contextos, sobretudo em início de carreira.
E os reais impactos para o setor da Saúde?
🔹 Mercado segmentado: A saúde inclui cursos com empregabilidade plena (como Medicina ou Enfermagem), mas também áreas com menor absorção ou inserção mais lenta. Esta segmentação leva os jovens a fazer escolhas estratégicas com base em dados de empregabilidade, podendo influenciar a distribuição futura de competências no setor.
🔹 Sobrequalificação e desperdício de talento: A presença de profissionais sobrequalificados em funções técnicas básicas compromete o seu desenvolvimento, reduz a produtividade das equipas clínicas e aumenta os custos organizacionais com rotatividade e desmotivação.
🔹 Pressão salarial e fuga de profissionais: Jovens profissionais de saúde altamente qualificados e com competências específicas (ex: enfermagem especializada, farmacêuticos industriais, técnicos de diagnóstico) são cada vez mais procurados por mercados estrangeiros com condições mais competitivas. A sua saída compromete a sustentabilidade do setor em Portugal.
🔹 Alinhamento entre ensino e mercado: O sistema de ensino superior em saúde deve reforçar a ligação com o mercado, ajustando planos curriculares e estágios às reais necessidades das entidades hospitalares, laboratórios, clínicas e farmácias. Por sua vez, as organizações de saúde devem repensar formas de atrair, reter e potenciar o talento jovem qualificado.
As nossas fontes: